Entrevista 1º parte: "As adversidades que vão surgindo vão nos moldando e tornando-nos mais resilientes"

 Andebol: Tem 29 anos, é natural de Lisboa e está atualmente sem clube depois de embarcar há 2 anos numa aventura pela Eslováquia (no Tatran Presov), onde diz que conquistou o troféu que "lhe soube melhor". É ponta-direita e após falar com o Mundo do Andebol, ficamos a perceber um pouco melhor quem é Nuno Santos

Mundo do Andebol

Nuno Santos


Numa carreira mais "dentro de portas" do que "fora de portas", Nuno Santos conta-nos que os melhores anos enquanto pessoa foram como sénior no Boa-Hora, onde "conheci seres humanos incríveis com quem tive a possibilidade de partilhar o balneário...".  "Alguns deles eram como Pais para mim e protetores", refere, dizendo que ficarão para sempre na sua memória e no seu coração.


P-  Desde quando vem a sua ligação com o andebol? O primeiro clube que representou (nos infantis e iniciados), pelo menos nas informações que recolhi, foi o “Cruzeiro e Rio Seco” de Lisboa, sua terra natal, verdade?

"A minha ligação ao andebol começou há muito tempo atrás quando tinha 7 anos. E sim, foi no colégio CCR CCR onde comecei a dar os primeiros passos na modalidade, com o professor Américo, e desde então aqui continuo. É um colégio especial para mim porque foi onde cresci, onde me foram transmitidos valores que acho serem os mais corretos e situado numa zona que amo. A Ajuda. Foi naquelas ruas que passei toda a minha infância e guardo muito boas memórias".

P- Passou por vários clubes da primeira divisão (Belenenses de 2007 a 2011 e depois de 2017 a 2019, Boa-Hora de 2011 a 2017 a e SC Horta em 2019/20), estando inclusive ligado à subida de divisão por parte do Boa-Hora em 2015/16. De entre estes anos todos, qual ou quais foram aqueles que lhe marcaram mais enquanto jogador?


Enquanto jogador, as melhores épocas acabam por ser aquelas onde os resultados desportivos foram ao encontro dos objectivos dos clubes que representei e onde tive um papel relevante no processo. Falo da subida à 1º divisão no escalão de juniores, quando representava o Boa-Hora, subida à 1ª divisão do Boa-Hora já em seniores e depois com o CF Os Belenenses a permanência no grupo A do Campeonato Nacional, que na altura era o grupo que disputava o título. Posição que já não era alcançada há diversos anos e foi desde essa altura que se voltou a ver um dos clubes com mais história na modalidade entre as 6 melhores equipas de Portugal." 


P- E enquanto pessoa?

"Enquanto pessoa, sem sombra de dúvida, foram os meus primeiros anos de sénior no Boa-Hora. Conheci seres humanos incríveis com quem tive a possibilidade de partilhar o balneário e que naquela altura, com 2/3 euros no bolso e ainda a estudar, isso nunca foi problema para me integrar no núcleo duro da equipa e de estar presente em momentos incríveis e que hoje recordo com carinho. Alguns deles eram como Pais para mim e protetores. São pessoas que ainda trago na minha vida e especialmente no coração. Eu que já passei por diversos balneários, todos eles diferentes uns dos outros, com coisas boas e menos boas, este que encontrei logo no inicio do meu trajeto enquanto jogador sénior era uma verdadeira equipa. Dentro e fora de campo!" 


Factos e Curiosidades


3

É o seu número preferido, inclusive aquele que teve enquanto representou o Tatran Presov, da Eslováquia


                              Ricardo Andorinho
Não tem um ídolo porque diz que não idolatra ninguém. Mas admira o sucesso desportivo e profissional do seu amigo Ricardo Andorinho (ex-ponta-esquerda da seleção e do Sporting)muito importante ao longo da sua carreira.

P- Ir jogar a EHF European league e a própria SEHA League é muito prestigiante, sabendo que aí jogadores e treinadores têm a oportunidade de mostrar aquilo que valem. Para si, é importante demonstrar aquilo que vale?

"Acho que qualquer jogador que queira ser/seja profissional quer o melhor para a sua carreira. Jogar competições Europeias é uma porta aberta para surgirem novas oportunidades e é o palco onde temos de estar no nosso melhor nível contra as melhores equipas Europeias. Treino todos os dias para conseguir estar presente nesses momentos e desfrutar ao máximo porque um dia todos estes momentos serão memórias. Por isso, hoje é a altura de trabalhar com profissionalismo e sempre que for “chamado” para disputar competições Europeias é dar o melhor de mim e desfrutar desses momentos únicos."

Competições Europeias? Treino todos os dias para conseguir estar presente nesses momentos... serão memórias"

P- Não é todos os dias que se consegue sair do país e ir para outro. A Eslováquia é longe e a cultura é totalmente diferente da portuguesa. Adaptou-se bem, ou as saudades “falavam mais alto”?

 "Sendo a primeira experiência além fronteiras a adaptação acaba por ser um pouco mais lenta. As saudades de casa, da família/amigos, das nossas rotinas, antiga vida, etc é algo que nos primeiros tempos sentimos com maior intensidade. Mas faz parte do crescimento de qualquer atleta/pessoa. Nem tudo é um “mar de rosas”. As adversidades que vão surgindo vão nos moldando e tornando-nos mais resilientes. Crescemos e mais tarde vemos que foi a melhor decisão a ser tomada. Hoje considero-me melhor jogador e melhor pessoa por ter embarcado nesta aventura. Valorizo mais o meu País e quando regresso é para desfrutar e criar mais memórias com a minha família e amigos. Quando estou fora, é foco máximo no meu trabalho diário e lutar por ter os melhores resultados coletivos e individuais." 

P- Conquistou 4 troféus na sua carreira. 1 segunda divisão, 1 taça da Eslováquia e 2 ligas eslovacas. Qual foi aquele troféu que lhe soube melhor?

"Apesar do primeiro ter sido especial por diversas razões, o que me “soube melhor” foi a Taça Eslovaca. A conquista deste título foi escassos meses depois de ter chegado à Eslováquia e o sentimento que tive foi de “recompensa”. Recompensa pelos diversos anos de trabalho que tinha desenvolvido até então e que começava a sentir o meu trabalho a dar frutos e na direção certa. Mas como todos os troféus, são apenas isso. Troféus. Há que continuar a trabalhar todos os dias para que mais momentos desses se repitam."

A segunda parte da entrevista disponível na edição de amanhã (4/7/2022)

Gustavo Magalhães


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